sábado, agosto 22, 2009

A volta da proposta de regulamentar a profissão no mercado de informática.

Bom, eu já escrevi diversas vezes, em newsgroups e fóruns sobre este tema, infelizmente nunca no blog. Vou sanar agora esta falha, para que o texto pelo menos fique registrado, e eu possa depois mencionar sem precisar reescrever tudo.

Em primeiro lugar, convém esclarecer que, caso seja aprovada a regulamentação da profissão, eu estaria dentro dessa reserva de mercado, portanto a minha posição nada tem de inveja (como alguns mais exaltados defensores dessa sandice propalam) ou outro sentimento, digamos… “menos nobre”.

Mas sou RADICALMENTE CONTRA a regulamentação da profissão de analista de sistemas, como também de outras como leiloeiro oficial (sim também querem regulamentar), flanelinha (acreditem, é verdade, veja aqui), capoeirista (duvida? então veja…), corretor de imóvel, contador, e várias outras.

Mas a discussão aqui é sobre analista de sistemas, aliás o próprio termo já é um tanto antigo e esta praticamente caindo em desuso, até porque as competências para construir um software como produto vão bem além disto.

Sou contra por várias causas, algumas:

- Regulamentação não é garantia de competência, o mercado já se encarrega de separar o joio do trigo, hoje vale muito mais uma certificação do que a regulamentação. Os defensores argumentam que software lida também com vidas humanas, como software de aviônicos, equipamentos hospitalares, usinas nucleares, etc.

   Oras, alguém pensa seriamente que a regulamentação fará alguma diferença nisso? Nenhuma empresa contrata um programador ou analista de sistemas para fazer software para incubadoras neo-natal por exemplo, isso é desenvolvido por empresas estabelecidas, com certificações CMM, ISO e por aí afora vai, o software tem que ser homologado e certificado, não interessa se o analista é diplomado ou não, o mesmo para softwares de avionica, para usinas e por aí afora vai.

   Pensam muitos que é necessário para frear a competição desmedida, que avilta os ganhos dos profissionais. Eu tenho a minha empresa de software, a competição no mercado é tanto com outras empresas quanto com profissionais independentes, eu não baixo o meu preço aquém do que considero justo e que minha planilha de custos mostra ser o razoável, e tem concorrentes no mercado cobrando 5% do meu preço final. Há mercado para eles e há mercado para a minha empresa também, tudo depende do cliente, e não será uma regulamentação que irá banir os camelôs de sistemas do mercado. Isso é competição, é concorrência, é saudável e bem vinda, graças à esta competição a qualidade aumentou (pelo menos a minha).

   Regulamentação é apenas reserva de mercado, e quem se beneficia disso, historicamente comprovado, são os incompetentes, vide a famigerada, nefasta e de triste lembrança, reserva de mercado de informática. Os bons profissionais, diplomados ou não, tem espaço no mercado, são disputados por empresas e pelo mercado. Apenas as empresas de fundo de quintal, ou a quitanda da esquina, e mesmo assim olhe lá, é que vão contratar o sobrinho do amigo do cunhado para fazer um programinha para controlar o estoque, esta é uma fase já passada, a realidade é outra.

    Hoje temos inclusive carência de bons profissionais no mercado, veja bem, de bons profissionais, profissionais diplomados ou não tem aos montes, mas qualidade é algo que anda raro, e é muito valorizada.

    Existem excelentes profissionais oriundos das faculdades, mas infelizmente existe também uma grande parcela que sai da faculdade sem noção de mercado, com parcas idéias teóricas, sem embasamento na realidade, sem falar nos que são incapacitados intelectualmente para exercer a profissão, e falo com conhecimento de causa, já perdi a conta de estagiários oriundos de várias faculdades que passaram pela empresa, e as estatísticas comprovam que mais de 80% não possuem condições mínimas para trabalhar, falta-lhes capacidade de raciocínio, ainda mais em uma área extremamente dinâmica como TI, aonde o conhecimento que tenho hoje é nada amanhã, temos que pesquisar, aprender, descobrir e manter-se em dia com as novas tendências e tecnologias, e esse ciclo se renova a cada semana, portanto não é um diploma que vai dar o estofo necessário para atuar nessa área.

    A regulamentação vai apenas onerar um pouco mais nossa atividade, com anuidades para conselhos, federações, e por aí afora vai, além de abrir um bom número de cargos para serem preenchidos por apaniguados políticos, e sustentados por nós.

    Um dos maiores entraves do Brasil é o custo trabalhista, e com a regulamentação estaremos burocratizando e onerando ainda mais uma área em que o dinamismo deveria operar. O que vai ocorrer é que grandes empresas de software, que hoje são grandes contratantes, vão acabar migrando a contratação de seus serviços para Índia, Paquistão, China, etc.

    Argumentam que só os relaxados, que nunca foram atrás de um diploma estão preocupados com isso. Bom, eu não me considero um relaxado, e como já expliquei no inicio do texto, eu estaria na turma dos “beneficiados”, mas discordo deste argumento, isso é uma desculpa esfarrapada de quem deseja ardentemente a regulamentação, para estabelecer uma reserva de mercado para si, ou por ter medo de encarar a competição do mercado, ou por comodismo mesmo.

    A regulamentação vai criar uma classe comodista, como já ocorre em algumas outras, e quem vai perder com isso é a sociedade como um todo, menos competição, menos desenvolvimento, preços maiores, enfim prejuízo para todos.

   Argumentam que os que “se acham competentes” mas não possuem diploma, que corram atrás do diploma, e que não precisam se preocupar com isso. É uma falácia, muitas vezes quem tem longa experiência e não é formado na área, não tem tempo de voltar para os bancos de uma faculdade.

   E quando se volta para os bancos de uma faculdade, chega a ser irritante o nível primário do corpo docente, que parece viver no mundo de Alice (com exceções é claro), com muito pouca noção de mercado, prazos, SLAs e como se produz software como produto.

   Com a quantidade cada vez maior de faculdades que não conseguem as notas mínimas, imagino o nível de profissionais que serão regulamentados, e com isso enganando o mercado. Sim, porque hoje o mercado sabe que existe tanto o picareta quanto o competente, mas com profissionais regulamentados, com a carteira na mão, muitos pensarão que isso será garantia de qualidade, o que não é.

    Sem falar que o legislador propõe regulamentar uma categoria que está em franca extinção. Não se faz mais software como produto apenas com Analista de sistemas e programadores, hoje precisamos das competências de um Engenheiro de software, um analista de negócios, e muitas outras competências, que vão muito além de um simples analista de sistemas.

   Então, eu não vejo nenhuma real vantagem para os profissionais e para o povo, em ter a profissão regulamentada e uma reserva de mercado, vejo isto sim uma tentativa de explorar o nosso bolso, criando mais um custo para bancarmos, além de proteção para os incompetentes que não conseguem se manter no mercado.

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