domingo, agosto 09, 2009

Aos poucos o gado vai acostumando com o jugo.

 

E aos poucos os conselhos de Maquiavel vão se confirmando, assim como as orientações de Antonio Gramsci, ainda que não empregadas dentro da sua ótica marxista.

A respeito da recente lei anti-tabagismo em São Paulo, a esmagadora maioria está bovinamente aceitando e aplaudindo.

Os que ousam levantar a voz contra, como já fiz, é sumariamente tachado de todos os epítetos pouco elogiosos imagináveis, além de ofensas verbais, e acusações do tipo “Egoísta, não se importa com os outros”, e por aí afora vai.

Oras, eu larguei o cigarro já tem mais de 9 anos, vez ou outra me atrevo a saborear um “puro” (charuto, para os menos íntimos do hábito), mas sou não fumante, a fumaça do cigarro inclusive me incomoda, portanto as ofensas e xingamentos raivosos caem no vazio, pois erram solenemente o alvo.

Porém me incomoda muito mais, não só me incomoda, me revolta, me causa repúdio, profunda revolta, o Estado metendo-se a tutor de minha vida privada, meus hábitos e até mesmo de cuidar da minha saúde. Não trabalho bem com a idéia de um estado controlador, isso liga em mim, de maneira automática e instintiva, o bixo da revolta, me vem à mente as multidões controladas pelo estado na China, Coréia, Cuba, ex-URSS, e por aí afora vai, e não posso ficar calado, quieto e aceitar isso como normal.

O que a maioria dos que aplaudem essa lei arbitrária parecem ignorar é que o foco da discussão está errado, enquanto o governo, como um déspota auto nomeado tutor de minha vida, brada demagogicamente aos quatro ventos contra os malefícios do cigarro, à maneira de um hábil prestidigitador que desvia o foco da cena principal, vai introduzindo no dia-a-dia do cidadão leis policialescas, privativas de liberdades, tutoras de direitos mais intimos, e mostrando o foco distorcido, consegue o aplauso da patuléia, como o boi que aceita de bom grado a água e o capim na estrada para o abatedouro.

Porque não se fez tanto empenho para disciplinar uma separação física de fato dos ambientes de fumantes e não fumantes, como existe em Salvador? Porque o impacto da lei promulgada gera muito mais dividendos eleitorais, e o (des)governador José Serra está de olho no Alvorada em 2010 e não no mandato de governador que deveria exercer.

Enquanto isso dezenas de pessoas (crianças, jovens, adultos e até velhos) se acabam fumando pedra nas Cracolândias por esse Brasil afora, e os governantes nada ou muito pouco fazem para solucionar o problema, novamente porque isso não gera dividendos eleitorais a curto prazo, esse é um problema que demanda energia, tempo, dedicação, esforço e trabalho, muito trabalho, para dar frutos em 1 ou 2 décadas, é muito tempo para os nossos politiqueiros de plantão, que querem colher os frutos agora, afinal há tempos perdeu-se o interesse coletivo de vista, em prol dos interesses pessoais e imediatistas dos politiqueiros que fizeram disso o seu meio e fim de vida.

O que me espanta é a maneira bovinamente plácida com que as pessoas, inclusive muitas tidas como cultas, aceitam a tutela do estado, via leis arbitrárias, em suas vidas.

Esse é um dos males seculares da América Latina, essa cultura ibérica de que o estado deve ser o grande pai, a tudo provendo, a tudo orientanto, a tudo tutelando, como se fossemos incapazes de tomar conta de nosso próprio nariz (e na maioria das vezes eu acho que uma grande parte da população é incapaz sim). É o oposto da mentalidade anglo-saxã dos nossos irmãos do Norte, que prezam a liberdade individual acima de tudo, e jamais aceitariam o estado lhes ditando o que fazer, por isso as ditaduras florescem muito mais nestas bandas, pois encontram terreno fértil no populacho.

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